sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Por que bilionários como Bill Gates e Warren Buffet estão “deserdando” seus filhos

Por Alexis Novellino

corporativismo nao

“Vou deixar aos meus filhos o suficiente para que eles possam fazer qualquer coisa, mas não tanto que não queiram fazer nada na vida”. Com essa declaração, o multi-milionário Warren Buffet, segundo homem mais rico do mundo, atrás apenas de seu amigo Bill Gates, reforça uma tendência mundial entre grandes empresários: a de deixar para seus herdeiros apenas uma pequena parte de suas fortunas e doar a maior parte para organizações beneficientes.

Buffet irá deixar menos de 10% de sua fortuna para seus filhos, e este percentual inclui doações para fundações beneficientes administradas por eles. Bill Gates, por sua vez, planeja deixar apenas US$ 10 milhões para cada um de seus três filhos.

Uma pesquisa recente realizada por Richard Harris, fundador do serviço online de testamentos totallyFREEwills, relatou que 62% das pessoas com patrimônio superior a U$S 800 mil em ativos líquidos, pretendem destiná-los para obras de caridade ou projetos sociais. Essa nova inclinação que os homens mais ricos do mundo estão adotando é na verdade uma forma de estimular seus herdeiros a fazerem seus próprios caminhos e não dependerem da herança dos pais, muitas vezes torrada em extravagâncias luxuosas. Viver sabendo que uma grande fortuna pode ser a resolução da maioria de seus problemas, pode fazer com que herdeiros tornem-se pessoas desmotivadas e sem vontade de vencer problemas cotidianos, comuns a vida de qualquer pessoa normal.

Um exemplo clássico e famoso brasileiro é do herdeiro do Copacabana Palace, Jorge Guinle. Sobrinho do fundador do luxuoso hotel, Jorginho Guinle, como era conhecido nas rodas da alta sociedade carioca, gabava-se de nunca ter ido trabalhar na vida. Morou a sua vida toda numa suíte do próprio hotel e se orgulhava de ter gasto a fortuna que lhe foi deixada de herança de quase cem milhões de reais em festas, viagens pelo mundo e presentes para mulheres. Foi o playboy mais famoso do país na época áurea do Rio de Janeiro, entre a década de 1930 a 50.

Casos como de Jorginho Guinle são relativamente comuns. Até hoje, infelizmente, a maioria das famílias afortunadas dá grande atenção aos aspectos patrimoniais do planejamento sucessório (capital financeiro) e pouca atenção ao preparo e amadurecimento dos herdeiros para lidar com os aspectos emocionais, sociais e práticos de herdar grandes fortunas. Há uma grande falta de cuidados paternais e maternais adequados quando o dinheiro permite que os pais paguem empregados educadores para substituí-los em tarefas cotidianas com seus filhos. Isso pode sinalizar para os mesmos que as atividades profissionais de seus pais são muito mais importantes do que eles próprios. Por isso, muitas vezes, o diálogo e a conscientização de que a fortuna pode trazer muito mais problemas do que soluções, podem ser um outro importante ponto a ser tratado na gestão de fortunas e no planejamento sucessório.

Membro da família mais influente da Itália e neto do fundador da Fiat, Edoardo Agnelli nunca demonstrou interesse nem talento suficiente para os negócios. Assim, também nunca obteve reconhecimento e muito menos carinho de seu pai. Cursou a University of Princeton e acabou se interessando pela filosofia oriental, chegando a passar um período na Índia. Buscava conforto em suas reclusões espirituais e nas drogas, e aos 46 anos suicidou-se. Casos como esse ilustram como a falta de contato e comunicação entre pais e filhos pode, muitas vezes, distanciar um planejamento sucessório de bons resultados.

Mas felizmente, ainda existem casos de sucesso. Na mesma família Guinle, há um exemplo de herdeiro bem sucedido. Com o mesmo nome do primo playboy, Jorge Guinle garante que as aparências com o primo param no nome. Começou a trabalhar aos 14 anos e hoje, aos 39 comanda um império de R$ 1,4 bilhão de tradings, empresa de logística e uma distribuidora de combustíveis. A empresa criada por sua mãe Germana, o grupo SAB, iniciou sua expansão no ano de 97, ao comando de Jorge. Único herdeiro homem de Germana, Jorge foi moldado pela mãe para aos poucos assumir o controle dos negócios da família. Desde sempre frequentava os escritórios da companhia e convivia com o cotidiano empresarial. Hoje, demonstra que assim como a mãe, tem o empreendedorismo na veia.

A opção de grandes empresários milionários de deixar a maior parte de suas fortunas para causas nobres e um legado que beneficie a sociedade pode ser realmente um grande incentivo para que seus filhos iniciem carreiras e paguem suas próprias contas. Mas o envolvimento de herdeiros desde o nascimento com a empresa e a educação dos mesmos para lidar com grandes quantias de dinheiro pode evitar gastos imaturos da herança e representar mais uma possível geração e continuidade de um legado familiar. Mas atenção, a legislação brasileira impõe uma série de restrições ao ato de atestar, e limites a dedutibilidade fical de ações filantrópicas. Por isso, antes de praticar filantropia ou de revisar testamento, procure um especialista.

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