quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Bom para a imagem. Bom para as finanças - Revista Exame

Por Silvana Mautone
22/02/2007


Uma pesquisa feita pela consultoria Prosperare mostra que empresas com governança avançada faturam mais e conseguem financiamentos mais baratos

Com os escândalos de empresas como Enron, WorldCom e Parmalat, o tema governança corporativa ganhou notoriedade internacional nos últimos anos. Para companhias de todo o mundo, adotar práticas de governança tornou-se sinônimo de transparência e uma espécie de antídoto contra fraudes. Uma pesquisa com 217 empresas familiares brasileiras feita pela consultoria Prosperare mostra que executivos e empresários devem ficar atentos às questões de governança não porque se trata de um assunto politicamente correto, e sim porque podem afetar o crescimento de uma companhia. O levantamento mostrou que, quanto mais avançado o nível de governança, gestão empresarial e organização familiar, mais acelerado é o aumento do faturamento e do lucro. Quem está na dianteira nesses quesitos acumulou crescimento médio de 66% no faturamento e de 42% nos ganhos dos últimos cinco anos (veja quadro). As que estão engatinhando no tema avançaram mais lentamente: 27% e 18%, respectivamente. "Se em cinco anos a diferença foi tão gritante, imagine o que aconteceria ao longo de uma geração", diz Alexis Novellino, sócio da Prosperare e coordenador da pesquisa.

Uma característica comum às empresas mais avançadas é a existência de conselhos de administração ou conselhos consultivos -- todos com a presença de profissionais independentes. A existência dessas pessoas pode ser decisiva, por exemplo, para pleitear um financiamento. É o caso da fabricante de cerâmicas Eliane, de Santa Catarina, que criou seu conselho de administração, no ano 2000, já com três dos oito integrantes independentes. No mesmo ano, a Eliane conseguiu um empréstimo de 45 milhões de dólares com o Banco Mundial. "Não criamos o conselho para obter o financiamento, mas sem ele não teríamos conseguido, porque esse era um pré-requisito", diz Edson Gaidzinski, neto do fundador da empresa e que há um ano ocupa o cargo de presidente. De acordo com ele, se a Eliane tivesse recorrido às linhas de crédito dos bancos de mercado, o custo do empréstimo seria pelo menos 20% superior. Com os recursos, a companhia expandiu uma de suas fábricas no Sul e comprou outras duas na Bahia. Desde então, a média do faturamento líquido da empresa mais que dobrou, atingindo cerca de 460 milhões de reais por ano.

O reconhecimento da importância da governança pelo mercado financeiro vem se tornando cada vez mais explícito. Um levantamento feito no ano passado pela Previ, o poderoso fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil, mostrou que empresas que voltaram a acessar o mercado externo após adotar boas práticas de governança conseguiram renegociar suas dívidas a um custo quase 70% menor. "O mercado cobra menos de quem adota critérios elevados de governança", afirma Sandra Guerra, consultora de governança corporativa do IFC, braço financeiro do Banco Mundial. O reconhecimento não vem apenas por meio da cobrança de juros mais baixos, mas também pela própria valorização da companhia. O banco Itaú é um exemplo desse efeito. Por determinação interna, sua tesouraria não pode comprar ações do Itaú na primeira meia hora do pregão nem nos últimos 10 minutos. "O objetivo é minimizar os riscos de haver manipulação nas cotações", diz Geraldo Soares, superintendente de relações com investidores do banco. Soares acredita que iniciativas como essa acabam expressas na diferença entre o valor patrimonial e o valor de mercado das empresas (que leva em conta também ativos intangíveis, como marca, capacidade de inovação e qualidade de gestão). "Em 2002, quando o Itaú começou a intensificar suas iniciativas em governança, o valor de mercado era o dobro do patrimonial. Hoje, ele é quatro vezes maior", afirma.






Retorno garantido

Nos últimos cinco anos, as empresas brasileiras com maior nível de governança cresceram mais que aquelas cuja governança é incipiente

Governança avançada

Governança rudimentar

Possuem conselheiros independentes, elaboram planos estratégicos e definem critérios para que familiares trabalhem nas companhias

Não possuem conselheiros independentes, os próprios empreendedores definem os investimentos e não há critérios para que familiares trabalhem nas empresas

Crescimento do faturamento

Crescimento do faturamento
66%

Crescimento do faturamento
27%

Crescimento do lucro

Crescimento do lucro
42%

Crescimento do lucro
18%

Fonte: Prosperare Consultoria



Transparência e confiança são critérios decisivos também para atrair novos sócios. A universidade paulista Anhembi Morumbi, fundada pelo empresário Gabriel Monteiro Rodrigues, hoje com 74 anos, começou a trilhar esse caminho em 2002. Preocupada com a questão sucessória, a família contratou o banco Pátria para arrumar a casa. Além de criar os conselhos de administração e de família,
o Pátria ajudou a instalar diversos comitês (como fiscal e de recursos humanos) para monitorar o desempenho da empresa. Três anos depois, a família vendeu 51% da Anhembi Morumbi ao grupo americano Laureate, por 165 milhões de reais. "Estamos crescendo mais rápido graças à sociedade", diz, sem revelar números, Ângela Freitas, uma das filhas do fundador da Anhembi Morumbi e hoje integrante do conselho de administração. Agora, ela está empenhada em buscar outras universidades no Brasil que possam ser alvo para a Laureate. "A dificuldade é encontrar instituições de ensino com uma gestão avançada, que incluam práticas eficazes de governança", diz.

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